terça-feira, 15 de março de 2011

Vivemos em crise??

Pedro Boucherie Mendes: Custa-me acreditar que vivemos em crise

Li e concordei! Acabei por concordar, não há como não...

Em primeiro lugar, não tenho a certeza de que vivemos em crise. Tenho mesmo muita dificuldade em acreditar nisso - refiro-me a Portugal e à Europa. Crise vive-se em África, onde as pessoas são pobres de facto. Crise é as pessoas meterem-se em barcos na Somália para chegarem até Itália. Para mim, um gajo não poder ir a Nova Iorque tantas vezes quantas gostaria não é crise.


Obviamente que depende do desempregado de que estamos a falar. Sem querer ser chocante - embora me esteja a cagar -, estou preparado para estar desempregado. Isto quer dizer que tenho dinheiro de parte; quer dizer que tenho uma casa boa, mas abaixo das minhas posses; quer dizer que o meu filho anda numa escola pública, quando poderia andar no Saint Julian s, porque tenho dinheiro para isso. Estou preparado para estar desempregado. Se o desempregado que estiver a ler esta entrevista estiver irritado porque o problema dele não é poder ir a Nova Iorque, na minha opinião ele quer ter um emprego para poder ir a Nova Iorque e comprar um iPad. Não consigo conceber um país onde as pessoas não andam de scooter e andam todas de Smart. Qualquer parque de estacionamento de uma universidade está cheio de carros de estudantes. Este país está em crise? É demagógico o que estou a dizer? Pode ser considerado demagógico, mas não acho que seja. Por que é que em Portugal não há scooters? Por que é que os putos não vão de scooter para o Bairro Alto beber copos e vão de Smart? Já as pessoas que vivem na Covilhã e foram para o desemprego porque a fábrica fechou - isto para caricaturar outro tipo de desempregado - têm mecanismos do Estado à sua disposição, como o subsídio de desemprego e o rendimento mínimo. Embora este não seja um discurso politicamente correcto, estou a tentar pôr as coisas em perspectiva. É evidente que em todas as sociedades há situações dramáticas. Mesmo que Portugal estivesse a crescer 18% ao ano haveria pessoas no desemprego. Mas creio que as pessoas vivem melhor do que aquilo que julgam, porque em Portugal vigora a política do não conta .


Há um gajo que diz: Eh pá, estou desempregado, isto está péssimo . Mas tu tens uma casa no Algarve e vais para lá todos os fins-de-semana no Verão . Eh pá, mas isso não conta, um gajo tem de espairecer . Portugal é o país da Europa com maior taxa de segunda habitação. Portugal é o país da Europa onde os estudantes têm mais computadores portáteis. Mas isso não conta. Os festivais de música estão sempre cheios, mas isso também não conta. E depois vemos reportagens - e isso dá-me vontade de rir - sobre pessoas que estão em situação dramática, mas têm empregada doméstica. Se eu ficasse desempregado, uma das primeiras coisas que faria seria despedir a minha e passava eu a lavar a roupa. Não deve ser muito difícil. E os telemóveis também não contam.


É preciso ver as coisas em perspectiva, mas reconheço que não gostava de ser jovem hoje porque sei que é quase impossível arranjar emprego.

Acho que Portugal tem exactamente o que merece (A minha preferida!)

Vão lá ler e pensem. É demagogo? Razoavelmente! É radical? Provavelmente. É politicamente correcto? Definitivamente não! É mentira? NÃO!

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